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Saiba quem foi Pagu, escritora homenageada pela Flip 2023

Patrícia Galvão foi escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista e jornalista brasileira


Foto: Reprodução internet
Foto: Reprodução internet

Revista Fórum - A escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista e jornalista brasileira Patrícia Rehder Galvão, conhecida como Pagu, é a homenageada deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que será realizada entre os dias 22 e 26 de novembro próximo.

Nascida em 9 de junho de 1910, em Santos (SP), e falecida em 12 de dezembro de 1962, em São Paulo, Pagu teve destaque significativo no movimento modernista iniciado em 1922, embora não tivesse participado da Semana de Arte Moderna porque, na época, tinha apenas doze anos de idade.


As curadoras da Flip 2023, Fernanda Bastos e Milena Britto, enfatizaram que diversas mulheres se manifestaram através de inúmeros pseudônimos em Pagu.


"Ela nos mostra várias paisagens internas e externas por meio de suas múltiplas linguagens, todas compartilhando uma contestação incansável diante do mundo rígido. Com suas formas de expressão e criação de mundos, Pagu desenvolve uma paisagem em que diversas mulheres brasileiras são retratadas: trabalhadoras, mães, boêmias, artistas, aquelas que almejam liberdade. É transformador olhar para o presente através das lentes de Pagu", afirmam as curadoras em entrevista à Agência Brasil.


Jornalista de destaque


Pagu atuou nos movimentos modernista e feminista, além de ter se dedicado ao ativismo contra o fascismo. Ela teve uma destacada participação na imprensa, sendo parte de publicações como Brás Jornal, Revista da Antropofagia, O homem do povo/A mulher do povo, A plateia, A vanguarda socialista, France-Presse, Suplemento Literário do Jornal Diário de São Paulo, Fanfulla e A tribuna.


Por que Pagu?


O apelido Pagu foi dado pelo poeta Raul Bopp, acreditando que ela se chamava Patrícia Goulart. Ela era uma mulher à frente de seu tempo, com um comportamento considerado extravagante. Defendia causas feministas, fumava e bebia em público, usava cabelos curtos e roupas justas e transparentes, costumava usar palavras de baixo calão e teve diversos relacionamentos amorosos, o que contrastava com sua origem familiar conservadora e tradicional.


Aos 15 anos, em 1925, mudou-se com sua família para a capital paulista, onde conseguiu seu primeiro emprego como redatora, escrevendo críticas contra o governo e as injustiças sociais em uma coluna do Brás Jornal, assinando com o pseudônimo de Patsy.


Aos dezoito anos, depois de concluir o curso na escola normal da capital paulista, ela se juntou ao Movimento Antropofágico, influenciada por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. O poema de Raul Bopp, Coco de Pagu, escrito em sua homenagem, foi o responsável por tornar a jovem Pagu célebre. Ela própria o interpretou no Teatro Municipal de São Paulo, em 1929.


Ela se casou com Oswald de Andrade em abril de 1930, após sua separação de Tarsila. Divorciaram-se em 1934. Com Oswaldo de Andrade, teve um filho, Rudá de Andrade.


Em 1931, Pagu ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB). No mesmo ano, enquanto participava da organização de uma greve de estivadores em Santos, foi presa pela polícia política de Getúlio Vargas. Essa foi a primeira de uma série de 23 prisões ao longo de sua vida. Em 1940, ela iniciou um relacionamento com Geraldo Ferraz, com quem teve seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz, em 18 de junho de 1941.


Pluralidade


Conforme avaliam Fernanda Bastos e Milena Britto, a pluralidade de gêneros incorporados no repertório artístico de Pagu faz dela uma aparição destacada na cena literária brasileira.


“Ainda que tenha falecido em 12 de dezembro de 1962 sem o reconhecimento e a legitimação que muitos de seus contemporâneos usufruíram. Foi prolífica à sua maneira, dedicando-se a muitos projetos que sempre cruzavam linhas e normas estabelecidas, surpreendendo no desenho, cartum, tradução, poesia, prosa, crítica literária, panfleto político, caderno de croquis, correspondência, crônica, diário e performance”, comentam Fernanda e Milena.


Pagu publicou os romances Parque Industrial, em 1933, com o pseudônimo de Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista, publicado em 1945 em colaboração com Geraldo Ferraz. Sob o pseudônimo King Shelter, lançou diversos contos policiais, reunidos posteriormente no volume Safra Macabra.


Para o teatro, traduziu grandes autores, muitos deles até então inéditos no Brasil, como James Joyce, Eugène Ionesco, Fernando Arrabal e Octavio Paz.


“O nome Pagu nos leva a lutas estéticas e políticas; nos alerta o quanto pode incomodar a coragem de uma mulher que enfrenta a força plena representada por instituições regulamentadoras de vida, de arte, de liberdades. Essa artista de vida extraordinária teve de pagar um preço alto por ser plenamente o que era em uma época de tantas interdições. Foi encarcerada algumas vezes, uma delas tendo passado quatro anos na prisão, onde enfrentou torturas físicas e psicológicas. Entre os sofrimentos que lhe deixaram profundas cicatrizes, Pagu teve de enfrentar abandono e desprezo de muitos aliados, mas jamais cedeu em seu espírito livre, continuou lutando contra as regras e a ordem cerceadora até o fim, mesmo que algumas vezes de maneira incompreensível para os seus contemporâneos".


As curadoras da Flip salientam que “é esta mesma luta que perdura, com arte e artimanha, que nos faz olhar para os espaços de encarceramento e imaginar mentes livres, criadoras; que nos faz olhar para a paisagem política do mundo e verificar a força de tantas mulheres sonhando mundos para todos; olhar para a arte de todo lugar e ver o sorriso de uma Pagu que sabia que o país que o Brasil escondia teria ainda de ser revelado”.


Pagu no cinema


Em 1988, a vida de Pagu foi retratada no filme "Eternamente Pagu" (1987), dirigido por Norma Benguell. Carla Camurati interpretou o papel principal, Antônio Fagundes interpretou Oswald de Andrade e Esther Góes interpretou Tarsila do Amaral.


Em 2004, foi lançado o livro "Caderno de Croquis de Pagu e outros momentos felizes que foram devorados", que reuniu 22 desenhos da artista. O livro foi organizado por Lúcia Maria Teixeira Furlani, com a colaboração de Leda Rita Ferraz e Rudá de Andrade, filho de Pagu e Oswald de Andrade.


Também foi realizada uma exposição dos desenhos no Museu de Imagem e Som (MIS) em São Paulo. Em 2005, a cidade de São Paulo celebrou os 95 anos do nascimento de Pagu com uma extensa programação, incluindo lançamento de livros, exposição de fotos, desenhos e textos da homenageada, apresentação de um espetáculo teatral sobre sua vida e inauguração de uma página na internet.


A lista de escritores homenageados pela Flip também inclui, em 2022, Maria Firmina dos Reis; 2021, Indígenas vítimas da covid-19; 2020, Elizabeth Bishop; 2019, Euclides da Cunha; 2018, Hilda Hilst; 2017, Lima Barreto; 2016, Ana Cristina Cesar; 2015, Mário de Andrade; 2014, Millôr Fernandes; 2013, Graciliano Ramos; 2012, Carlos Drummond de Andrade; 2011, Oswald de Andrade; 2010, Gilberto Freyre; 2009, Manuel Bandeira; 2008, Machado de Assis; 2007, Nelson Rodrigues; 2006, Jorge Amado; 2005, Clarice Lispector; 2004, Guimarães Rosa; e 2003, Vinicius de Moraes.


Com informações da Agência Brasil

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