Livro “O pequeno príncipe preto” reforça autoestima e protagonismo de crianças negras
Releitura do clássico francês, obra de Rodrigo França destaca a importância da ancestralidade
Brasil de Fato - Lançado em 2020, o livro O pequeno príncipe preto, escrito pelo ator e diretor Rodrigo França, retrata um mundo cheio de possibilidades, afeto, respeito e auto-estima, onde, ao contrário do clássico francês de Antoine de Saint-Exupéry, uma criança negra é a protagonista da aventura.
Na releitura da obra, o escritor brasileiro retoma a ancestralidade do povo africano, e página por página, mostra a importância da construção do amor próprio, principalmente para as crianças negras, deixando a mensagem de que elas são capazes e fortes o suficientes para enfrentar qualquer coisa.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Rodrigo França afirma que O pequeno príncipe preto aborda a potência da cultura negra e o respeito à ancestralidade africana, indo na contramão de uma sociedade estruturalmente racista, que tenta impedir que crianças negras exaltem suas próprias origens.
“Discutimos muito sobre representatividade mas acredito que está na hora de ultrapassar essa representatividade e irmos para o protagonismo. O pequeno príncipe preto veio para trazer exemplificações positivas a partir desse protagonismo negro. Muito me preocupa estarmos em 2020 e não termos uma gama de livros publicados, no Brasil, com o rosto desse menino negro ou de uma menina negra”, critica o autor.
Assistida por mais de 60 mil expectadores, a releitura também ocupou os palcos de teatros em todo país, e só chegou agora às páginas do livro, ilustrado por Juliana Borges Pereira.
França, que também é filósofo e cientista social, conta que a história do menino que mora em um minúsculo planeta com uma árvore baobá, sua única companheira, carrega o afeto e os aprendizados que aprendeu em sua família.
A exemplo da figura da grande árvore, que também está presente no clássico francês, mas que aparece de uma forma muito diferente em O pequeno príncipe preto. Começando pelo artigo pela qual é tratada.
O autor relata que fez questão de deixar as referências à árvore milenar no feminino, cujo personagem foi inspirado em sua avó e no que ela representa para ele.
“Eu coloco a Baobá como uma árvore ancestral. É dela que o pequeno príncipe preto adquire seus conhecimentos em relação à sua história, à cultura e suas tradições, o respeito às pessoas mais velhas”, diz França.
“A cultura africana e principalmente a pré-colonizada é matriarcal, ao contrário da cultura ocidental que coloca o homem como o centro. E, ao contrário do livro clássico em que a Baobá é uma erva daninha que se deve matar para que não destrua o planeta, a Baobá é uma árvore milenar, sagrada no continente africano”, complementa o autor.
O escritor acredita que na medida em que se trabalha valores positivos com as crianças negras, se fortalece sua próprias existências e deixa cada vez mais claro o quão essencial é valorizar quem são e de onde vieram.
Segundo França, o livro também permite que a criança não negra entenda que não existe uma cultura universal e passe a valorizar mais a diversidade e a pluralidade.
“O pequeno príncipe é isso, é para todas as idades e todas as cores, mas tem um recorte de enaltecer a cultura negra da melhor forma possível. O livro é bastante inspirador pra mim como autor e será bastante inspirador pro leitor ou pra leitora que tiver acesso”.
Publicada pela editora Nova Fronteira, a obra está disponível nas principais livrarias de todo o país.