'Teodora Mendes' desafia o simples e subverte o comum
Por Cyntia Fonseca
De tudo o que pode ser dito desta obra, eu começo com um fato: a superficialidade e o trivial não têm lugar na escrita de Deise Pontes. Em sua publicação de estreia, Teodora Mendes e outras mulheres (Ed. Apologia Brasil, 156p.), a autora desafia o simples e subverte o comum. A cada conto, é fácil notar como o mergulho na construção das personagens foi fundo, profundo, permitindo mostrar a face mais crua da realidade, ainda que com muito bom humor. São mulheres que erram, acertam, perdoam, superam, recomeçam. Que são imperfeitas e, por isso mesmo, encantadoras.
A leitura de Teodora Mendes e outras mulheres é como um passeio. O caminho percorrido entre as histórias tem como recompensa uma narrativa cativante página a página, parágrafo a parágrafo, permeada por elementos surpresa espaciais, temporais ou psicológicos, como em O silêncio e a espera, ou trágicos como nos contos Bodas de Madeira e Ena & Andor.
A cada história, há provocações várias e inevitáveis, que vão do riso ao choro; ora irônicas como em Entre vinho e petições e Perturbação dentro das calças, ora libertárias como em Perfeito Demais. Isso sem falar naquelas que atingem em cheio o nosso lado mais emocional como Doce perdão e A menina da última carteira.
O fio que conduz toda a obra – o latente e intrínseco poder feminino das Enas, Iedas, Otílias, Diodetes e Eleonoras – desagua no conto que presenteia com o ápice da potência literária da autora. Teodora Mendes, a história que intitula o livro, costura o presente e o passado de uma personagem autêntica com maestria. Apesar de única e fictícia, é quase impossível não se identificar com ela, suas peculiaridades e nuances, reveladas ao longo de uma trajetória com reviravoltas, tropeços e recomeços.
Como numa montanha-russa, Teodora, ou T1 para os íntimos, ora vive o auge das conquistas ora é devastada pelas intempéries. Ela precisará, acima de tudo, olhar para si e ressignificar sua existência antes que seja tarde demais.
A pergunta que surge é: Teodora Mendes é um pouco de todas nós ou será que é cada uma que carrega em si um pouquinho de Teodora?
Cyntia Fonseca
Jornalista, escritora, pós-graduanda em Língua Portuguesa e mãe de Maria Flor.
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O livro Teodora Mendes e outras mulheres será lançado no domingo, 12 de março de 2023, no Garage Pub Masterpiece às 16h. Local: Tv. São Gonçalo - Centro, São Gonçalo (Ao lado do Amigão).